domingo, 14 de fevereiro de 2010

Quem sabe um dia...

Não fora um simples encontro. 
Encontrara-o num dia especial. Aos olhos dela, as palavras eram como um pássaro com vontade de voar. Ele retribui-lhe o sorriso mas não o de sempre. Pudera. Um pouco diferente, olhar incerto, palavra firme. Ela falou-lhe, de um falar tímido como se fora a primeira vez que o via, como se nunca tivessem tido coisa alguma, num passado tanto dele como dela. Apostava que ele pensava o mesmo que ela, e no entanto nem uma palavra sobre o assunto. Parecera-lhe que tinha já o assunto encerrado, fechado numa gaveta de madeira poeirenta, daquelas que se guardam as roupas que já não servem, onde todas as cartas que lhe escrevera começavam a ter uma cor amarelada de velhice. E no entanto, apenas uns meses tinham passado. Para ela uma eternidade, ou talvez não. Já estava habituada a estas coisas de esperar. Paciência era uma palavra abundante no seu coração. Feliz por o ver, embora com a certeza que o sentimento não era recíproco... ou pelo menos não tão recíproco. Talvez tenha sido o passado inútil como um trapo  ou talvez não, haviam aprendido imensa coisa... Quem sabe um dia... ou talvez não. Porta cerrada, uma vontade de entrar... Mas não.



sábado, 13 de fevereiro de 2010

E quando a inspiração não vem, e já vai longe o dia da última publicação, recorro a poemas feitos, palavras (in)certas, de poetas que mudam toda uma vida.


É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;

As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo



Fernando Pessoa