sábado, 14 de novembro de 2009

Três anos. Mais de 350 aulas.

São pessoas como estas que fazem com que sempre estejamos com um sorriso aberto, ou uma lágrima de felicidade no cantinho do olho... três anos, mais de 350 aulas é certo... a amizade, essa continuará... Não acreditam? Leiam então...

Em partes iguais, entusiasmo, rebeldia, sorrisos, risos, olhares irónicos, olhares tensos, disponibilidade, respeito, e mais, e mais….entraram pela sala de aula levando a Catarina, sempre num rodopio.
No 10º e no 11º, na sala 12. No 12º na 42A. Sempre à minha frente. Ao longo dos três anos, a menina que se sentava na primeira fila foi crescendo. Fez birras, foi rebelde, foi mais sensata, menos sensata, mas, e citando (livremente) o Nobel Português, “era sempre o sorriso quem abria a porta”.
Pela segunda vez, este ano, a Catarina entrou na minha sala de aula. O mesmo sorriso. Os mesmos gestos. A mesma alegria. Contagiante. Só não estava tão despreocupadamente preocupada. Essa faceta da sua personalidade está, agora, reservada a outras salas, outras aulas, outros professores.
Agora vem de visita. E é sempre bem recebida.
Primeira da aula da manhã. Escola Secundária de Gondomar. Sala 6. Dentro, o 10º8 faz a correcção do teste de Português. A Catarina encontra a porta aberta, mas não entra. Não se impõe. Num gesto típico de criança (e dela), estica o sorriso, espreita (será que a ouço fazer cu-cu!!?) e, quando ouve – olá Catarina, entra! –, fá-lo de forma decidida,  abre os braços e o abraço é sincero e meigo, recíproco.
Olhei disfarçadamente e percebi nos mais de vinte rostos que estavam sentados nas cadeiras o olhar inquiridor. Impliquei-os. Perguntei se a conheciam. Alguns não, outros sim. Sobretudo por ter pertencido ao TESG. Apresentei-a. Expliquei-lhes o motivo da sua presença.
Falou-lhes do tempo em que foi aluna do secundário, das dúvidas, das ânsias, das matérias preferidas e das outras também. Bem-disposta e empática cativou-os e eles ouviram-na atentamente. Fizeram perguntas. Ouviram as respostas, sorriram, riram.
Por entre os conselhos que lhes ia dando, ia-me contando os resultados dos testes que já fez. E o brilho do olhar ia-me confidenciando a felicidade de quem tem consciência do dever cumprido.
Três anos. Mais de 350 aulas, muitas mais horas de convivência, dentro e fora da escola. Hoje, pela segunda vez, a Catarina entrou na minha aula. Mas não pela última, tenho a certeza.
Encontrarás à tua espera a porta sempre aberta e os braços também.
Um obrigada com um beijinho a tiracolo, “bolotinha”.
Ana Catarino.
13/11/2009


Obrigada Professora... obrigada :')

domingo, 8 de novembro de 2009

"As coisas importantes são invisíveis aos olhos..."


Este é um diálogo entre uma raposa e o principezinho, sobre aquilo de que os homens por vezes se esquecem: cativar.


« Quem és tu? - perguntou o principezinho - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou tão triste...
- Não posso brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...
- Ah! Então desculpa! - Disse o principezinho.
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
- "Cativar" quer dizer o quê?
- Vê-se logo que não és de cá - disse a raposa. - De que andas tu à procura?
- Ando à procura dos homens - disse o principezinho. - "Cativar" quer dizer o quê? 
(...)
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer "criar laços"...
- Criar laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto tu não és nada para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti...
(...)
A raposa calou-se e ficou a olhar para o principezinho durante muito tempo.
- Se fazes favor... cativa-me! - acabou finalmente por pedir.
- Eu bem gostava - respondeu o principezinho. - Mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer...
- Só conhecemos o que cativamos - disse a raposa. - Os homens deixaram de ter tempo para conhecer o que quer que seja. Compram as coisas já feitas aos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos os homens deixaram de ter amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
(...) 
E o principezinho cativou a raposa. (...) »



Antoine de Saint-Éxupéry - O Principezinho

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

(...)

"E hoje há qualquer coisa que me fere
e que me faz querer tanto ter-Te aqui"
                                       

                                             

Lettera Amorosa

Respiro o teu corpo
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

            Eugénio de Andrade