sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Viagem

Acordei de manhã
Antes do sol nascer.
Queria sentir ainda
O perfume da madrugada
E sentar-me numa cadeira... quem sabe?
No jardim, e olhar o céu
Que se torna a pouco e pouco azul
Um azul que é tão nosso,
Que é tão teu...
Pois não é esta cor sinal de harmonia e paz?
Enfim, um raio de sol que aparece
Para dar luz a um novo dia
Um dia lindo,
Sem núvens nem vento
Só a brisa a acompanhar o pensamento...
Quem sabe não faço uma visita?
Rápido! É preciso tomar duche
É preciso pegar na mala e.... correr?
Sim! Depressa, depresa e parar onde?
Não importa, apenas esta brisa que nos bate na cara
Nos acompanha
E nos faz sentir bem, soltos, livres!
Mas é preciso chegar ao local!
Autocarro e depois... quem sabe?
Um comboio... Sim!
Não há tempo a perder!
Destino?
O que chegar a ti,
É esse que preciso.
Apanho-o e espero desesperadamente
E descanso horas a fio
Na prespectiva de um encontro
Que não passará de algum tempo
Mas isso não importa!
Importa sim chegar!
É na próxima... é aqui!
Saio, e logo a tua figura inconfundível
Se destaca no meio da multidão...
Caminhas para mim,
Caminho para ti,
E... quando penso que te alcancei
‘Acordo’, e vejo que nada tinha sido
Senão um sonho,
Um sonho lindo na verdade mas...
Um sonho.                                                                            

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Súplica

O primeiro de Miguel Torga 

Agora que o silêncio é um mar sem ondas, 
E que nele posso navegar sem rumo, 
Não respondas 
Às urgentes perguntas 
Que te fiz. 
Deixa-me ser feliz 
Assim, 
Já tão longe de ti como de mim. 
Perde-se a vida a desejá-la tanto. 
Só soubemos sofrer, enquanto 
O nosso amor 
Durou. 
Mas o tempo passou, 
Há calmaria... 
Não perturbes a paz que me foi dada. 
Ouvir de novo a tua voz seria 
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

Fuga


Vasculhou na gaveta.
Procurou mais fundo.
E não encontrou.


Fugira-lhe
escapara entre as mãos
sem que pudesse dizer mais nada.
Nem uma palavra.
Nem um murmúrio.


Apenas o silêncio
o olhar,
de quem pede para ficar
mas não o diz.


Foi assim
e pareceu-lhe não ter ficado nada
nenhuma memória
de dias em que juntos
vagueavam e trocavam palavras,
ainda que vagas,
cheias de amor.


Mas foi.


Ficou a olhar para o chão,
orgulho ferido,
ferida aberta.


Fechou a gaveta.
Tristeza insana.
Alma perdida.

sábado, 23 de janeiro de 2010

A Janela

Antigo... Na verdade nem sei porque o publico... Mas gosto muito, e é meu :)

Era uma janela,
uma janela pequena de madeira
pintada de branco
descascada,
esburacada...
Abri a janela,
abri-a de par em par,
quis respirar o perfume da manhã
daquele dia de sol,
daquela janela voltada para o mar,
mas em vez da neblina,
em vez do iodo e das algas
encontrei um mar de recordações,
de tempos perdidos,
de desamores vividos,
 de alegrias e tristezas,
de ternuras amarrotadas,
de amores incompreendidos...
Olhei mais a fundo,
quis dispersar aquelas tristes imagens,
afastá-las de mim...
E foi então que te vi
surgir,
bem lá no fundo
de braços abertos para mim...
Então saí da janela
e apertei-te contra o peito,
como já haviamos feito
naquela mistura de sonho com realidade
naquele momento perfeito.
Estávamos tu, eu e o jardim...
Tudo estava completo,
pois estavas comigo...
Juntos vagueamos,
de mãos dadas
pelo jardim das recordações
revivendo emoções
“  – Vamos – disse – vamos ver o mar...”
“  –Vamos – sussuraste – quero-te abraçar...”
Deixámos a janela...
e continuámos a sonhar,
a caminhar
a recordar...


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Liberdade

    Para marcar o meu primeiro dia de férias! Dedico-o a ti Jamaica, preguiçoso e amante da literatura de Fernando Pessoa!
    Ai que prazer
    não cumprir um dever.
    Ter um livro para ler
    e não o fazer!
    Ler é maçada,
    estudar é nada.
    O sol doira sem literatura.
    O rio corre bem ou mal,
    sem edição original.
    E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
    como tem tempo, não tem pressa...
    Livros são papéis pintados com tinta.
    Estudar é uma coisa em que está indistinta
    A distinção entre nada e coisa nenhuma.
    Quanto melhor é quando há bruma.
    Esperar por D. Sebastião,
    Quer venha ou não!
    Grande é a poesia, a bondade e as danças...
    Mas o melhor do mundo são as crianças,
    Flores, música, o luar, e o sol que peca
    Só quando, em vez de criar, seca.
    E mais do que isto
    É Jesus Cristo,
    Que não sabia nada de finanças,
    Nem consta que tivesse biblioteca...
          Fernando Pessoa


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Para que serve o Amor / À quoi ça sert l'amour



À quoi ça sert l'amour?
On raconte toujours
Des histoires insensées
À quoi ça sert d'aimer?

L'amour ne s'explique pas!
C'est une chose comme ça!
Qui vient on ne sait d'où
Et vous prend tout à coup.

Moi, j'ai entendu dire
Que l'amour fait souffrir,
Que l'amour fait pleurer,
À quoi ça sert d'aimer?

L'amour ça sert à quoi?
À nous donner de la joie
Avec des larmes aux yeux...
C'est triste et merveilleux!

Pourtant on dit souvent
Que l'amour est décevant
Qu'il y en a un sur deux
Qui n'est jamais heureux...

Même quand on l'a perdu
L'amour qu'on a connu
Vous laisse un goût de miel
L'amour c'est éternel!

Tout ça c'est très joli,
Mais quand tout est fini
Il ne vous reste rien
Qu'un immense chagrin...

Tout ce qui maintenant
Te semble déchirant
Demain, sera pour toi
Un souvenir de joie!

En somme, si j'ai compris,
Sans amour dans la vie,
Sans ses joies, ses chagrins,
On a vécu pour rien?

Mais oui! Regarde-moi!
À chaque fois j'y crois!
Et j'y croirai toujours...
Ça sert à ça, l'amour!
Mais toi, t'es le dernier!
Mais toi, t'es le premier!
Avant toi, y avait rien
Avec toi je suis bien!
C'est toi que je voulais!
C'est toi qu'il me fallait!
Toi qui j'aimerai toujours...
Ça sert à ça, l'amour!...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Felizmente há luar!

Uma obra escrita em 1961 por Luís de Sttau Monteiro e que se dá pelo nome de Felizmente há luar! 
Um texto intemporal, que faz sentido tanto em 1961 como em 2010. Crítica à sociedade. E pode bem ser colocada nos dias de hoje. Fiquem com este pequeno excerto de uma obra que para mim diz muito.


"Ensina-se-lhes que sejam valentes, para um dia virem a ser julgados por covardes!
Ensina-se-lhes que sejam justos, para viverem num mundo onde reina a injustiça!
Ensina-se-lhes que sejam leais, para que a lealdade, um dia, os leve à forca!

Não seria mais humano, mais honesto, ensiná-los de pequeninos a viverem em paz com a hipocrisia do mundo?

Quem é mais feliz: o que luta por uma vida digna e acaba na forca, ou o que vive em paz com a sua inconsciência e acaba respeitado por todos?"



Um pequeno excerto da obra, onde Matilde é a personagem e que com as perguntas retóricas nos deixa a pensar se não é assim a sociedade em que vivemos.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Je te veux encore, je te veux!

Talvez não tenhamos dado tudo um pelo outro. 
Talvez faltasse alguma coisa. E faltava.
Ambos erramos. Não fui eu, não foste tu. Fomos os dois.
Mas o sentimento, ainda permanece, e irá permanecer. 
E eu ainda te sinto nos meus braços, no embalar duma música doce. 
Acordada, sonho um mundo que não é o que vivo, mas que me faz feliz. Ou talvez triste. 
Uma parte de mim ficou perdida por aí, talvez se tenha ido esconder debaixo dos lençóis a chorar agarrada à almofada. 
A palavra sorriso, essa foi desvanecendo e ficou tão triste como eu. 
Não te vou esquecer, não posso esquecer cada momento que te dei, que me deste, que foi nosso... és demasiado importante para mim. És e serás. 
Não queria que assim fosse. Foste assim desse jeito. 
Mais uma vez, vou fechar a gaveta. Não totalmente. Vou fechar mas não trancar. 
Como se apenas de uma despedida sem demora se se tratasse. Ainda te espero no silêncio do meu quarto, talvez um sinal teu.
Enquanto isso, vou lembrando aqueles dias em que o teu olhar era doce e sereno, e tinha um canto de ave escondida com vontade de voar. 

domingo, 10 de janeiro de 2010

Taizé

Taizé, um lugar mágico, especial. Uma forte cumplicidade para com todos os que nos são iguais. E sobretudo, uma comunhão com o verdadeiro Amigo, numa harmonia que se não a vivermos quase não acreditamos que existe.Um vídeo realizado por alguém que foi a Taizé e conseguiu transmitir muito bem o que se vive, como se vive e sobretudo o que Taizé significa para os que lá vão.


Tu és a esperança, a madrugada












Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de Setembro,
quando a lua é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.


Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.


Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.


Eugénio de Andrade

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lembrança

Porque foste naquele dia?
Naquele, tão marcante entre todos os dias marcantes... Foste assim, tão mal que estavas tu meu avô, quiseste partir porque a dor era demasiada. Mas naquele dia?
Eras a força que mantinha a família unida. E mesmo assim foste sem dar aviso. Eu compreendo-te, estavas cansado da longa viagem que é a vida e ainda por cima, tão doente. Trabalhaste tanto, deste tanto de ti. Desculpa não te ter escrito no teu dia, sempre fui um pouco descuidada, e tão traquina como tu me dizias tantas vezes "Pára quieta Catarina!" e eu continuava a brincar na sala e a saltar no soalho desalinhado da sala, já um pouco velho demais.
Deste muito de ti sabes bem, merecias descansar. Mas na verdade, agora que se passaram 4 anos sinto a tua falta. Tenho saudades tuas, entendes isso não entendes?
Eu sei que não podes voltar, e que estás sempre comigo, mas à medida que o tempo passa custa um pouquinho mais. É triste entrar em casa e não te ver a comer um bombom no sofá do canto a ver televisão. É triste ver que a ausência da tua voz se faz notar naquele lugar. Acho que nunca me habituei sabes? Sempre sinto a falta de alguma coisa. És tu.
Então, sento-me no sofá, o teu, o pequenino do canto, chego à vitrina (entre os protestos da minha mãe e a boa vontade da avó)e agarro um bombom. Desembrulho-o, lembro-me de ti, e depois meto-o na boca e deixo-o derreter.
Depois olho para a fotografia em que estás com a avó e penso na falta que fazes. Não só a mim mas a esta família que aos poucos parece que vai degradando. Eras o cimento em carne e osso da família. Nunca mais houve um Natal igual desde o que te foste embora... Nunca mais houve família reunida como antes. Como fazes falta avô!
Desculpa, o tempo tem sido escasso, mas um dia destes vou colocar-te lá uma luz. Mas mesmo que não visite aquela que desde à quatro anos é a tua nova casa, lembra-te, onde quer que estejas que a tua Neta, aquela à qual as últimas palavras que disseste foi "Está quieta Catarina", (ironia do destino) nunca, nunca se esquece de ti!

Um beijinho avô!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Adeus

Este poema é um dos meus favoritos de um dos meus poetas favoritos... É pouco mas é verdade, um poeta como os outros :)
Eugénio de Andrade de pseudónimo José Fontinhas, nascido a 19 de Janeiro de 1923 na Póvoa da Atalaia e falecido a 13 de Junho de 2005 no Porto.

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